sexta-feira, 26 de julho de 2013

Prólogo a Saga de Cheng-So

As histórias que são narradas referem-se à época da Rainha Taarna e do general Tibério, “O Implacável”, “O Impiedoso”, “O Inexorável” (e outras tantas denominações que lhe foram atribuídas), o que faz muito tempo. Quanto? Bem, ao final da narrativa irão compreender que realmente não importa, não existe uma perspectiva linear deste período, dimensões alternativas e realidades paralelas, sabem? Tecnologicamente, aquele mundo lembra a idade média – sem queimar bruxas ou matar sarracenos e mouros – mas sua cultura não tinha/tem comparação com a nossa, bem, de vocês. Podemos dizer que as linhas temporais, ocasionalmente se cruzam e o presente encontra o passado e este volta ao futuro, coisas do gênero. Por não ser possível desequilibrar as constantes temporais sem interromper o fluxo do universo, só os grandes magos dominam a transposição do tempo. Ao voltar para o passado eles simplesmente fazem o que já haviam feito antes, os magos do tempo (timelords) vivem em todas as épocas simultaneamente.
Existe aqui, um presente sem magia e, neste mundo, pouco se sabe a respeito, mas quem de vocês nunca sentiu um frio repentino na espinha, um silêncio súbito?
Um fato repetir-se no instante seguinte em que aconteceu ou a antecipação de um evento?
Popularmente conhecemos este fenômeno por Déjà vu, algo como uma volta no cérebro, este armazena a informação na memória para resgata-la no instante seguinte, francamente... ou chamamos de adivinhação. Ora, não existe adivinhação - isto é um disparate criado por falsos magos com intuito de aproveitar-se dos incautos – mas, isto sim, antecipação dos fatos, uma poderosa disciplina Kai que lhe permite antever, sob determinadas circunstâncias, situações que estão por vir.
A magia está intrinsecamente ligada ao Mana, a manifestação energética da capacidade mágica ou a energia mágica em si. O poder de um mago constitui-se da sua interação com esta energia, e da aptidão de armazená-la em si.
Nos dias de hoje, os poderosos magos que falaremos, pouco mais de que qualquer um de nós poderia fazer, não existe Mana neste mundo. Um mago só consegue fazer suas magias funcionarem se este mana existir em quantidade aceitável para isso, tanto no local como neles mesmos. Esta energia é incompatível com a tecnologia, quanto mais tecnológica uma sociedade, menor a possibilidade da manifestação do Mana no local. E o nosso mundo? – Nosso, meu e teu, e não dos goblins, elfos e anões – onde entra nesta história? Veja bem, nesta, não entra, mas faz parte, faz sim. Só que isso já é
uma outra narrativa. Voltando a nossa, sobre heróis que sabiam seu destino, trágico como deve ser o de um herói, ou nem tanto, alguns tem mais sorte (?) que outros. Dos vários que iremos encontrar nesta primeira aventura, apenas alguns serão tratados com a devida deferência à sua fama naquele mundo. Sem seguir muitos caminhos paralelos, traçaremos o de alguns homens (não necessariamente humanos, nem do sexo masculino, mas para não dizer: “elementos masculinos e femininos de todas as raças”, simplificarei a narrativa como “homens”) importantes para as aventuras que estão sendo narradas. Mas cabe salientar que os “homens” que não trataremos com o respeito já citado, terão sua oportunidade no momento devido, pois seus feitos não foram menos memoráveis que os que iremos relatar aqui.

Neste mundo curioso a vocês, habitam raças díspares do que conhecem, e desde já necessitam tomar ciência das mesmas para um melhor entendimento da jornada que estão para iniciar.
A primeira raça que falaremos é também ancestral a todas outras e, por que não dizer, a mais característica daquelas épocas: os Elfos. Altivos e arrogantes, são a raça mais antiga conhecida, tem como peculiaridade principal a sua imbatível autoconfiança, que, por vezes, torna-se seu maior inimigo. Orgulhosos, evitam conviver com seres humanos e anões e, sobretudo, desprezam completamente os semi-elfos. Mais altos e magros que os humanos, suas cores variam do cinza ao verde-azulado (podendo ficar amarelados com o tempo), os elfos vivem muito mais que os humanos, e quanto mais avançada a idade, mais mal-humorados, por isso elfos velhos (ou antigos como gostam de ser chamados) não são avistados comumente, a rigor não se sabe se eles morrem de velhice ou se simplesmente deixam de viver. Os ancestrais não tinham pelos no corpo como os elfos modernos, e consideram-nos uma humanização da raça o que os envergonha profundamente, portanto, não usam barba, apesar de a possuírem pois parece humano demais. Possuem dedos longos e finos, mãos hábeis e braços pouco maiores que os dos humanos, mas o que os orgulha são as orelhas pontudas que fazem questão de colocar a mostra, denotam inteligência para um elfo. Apesar de exímios atiradores com arco e flecha e bons combatentes, raramente admitem que vivem uma vida de aventuras. Possuidores de grande controle do Mana tornaram-se famosos magos e feiticeiros e, não raro, acompanham imperadores e reis como conselheiros. Não são bons em construir armas, com exceção de arcos (excelentes) difíceis para um humano utilizar, pois necessitam muita força física. Vivem sós ou em duplas a perambular à busca de aventuras ou em cidades élficas, pouco conhecidas dos humanos. As mulheres são muito bonitas e apreciadas por estes, mas dificilmente um elfo aceitaria casar sua filha com um “orelhas redondas”. Existem, hoje em dia (nos tempos de Tibério), algumas sub-raças: os elfos da floresta, menos arrogantes, até fazem amigos entre humanos, grandes conhecedores das artes da floresta, e protetores dos animais; os elfos das montanhas, mais velhos e orgulhosos, dificilmente têm filhos, passam os dias a pensar e filosofar, raramente são vistos, moram nas montanhas mágicas e são protegidos por dragões, e outras criaturas poderosas; e os elfos do mar, negociantes, marinheiros, piratas, conquistadores, descobriram os continentes novos e possuem ilhas onde mantém seu povo ao abrigo dos humanos e dos outros elfos com quem tem rixas milenares. São considerados uma sub-raça pelos elfos por adquirirem um comportamento demasiado humano. Como essas divisões ocorreram ninguém sabe ao certo, mas sabe-se que o fato se deu nos primórdios das civilizações humanas e que são pouco discutidas entre aqueles sendo motivo de desonra.

O resgate

A idade avançada não se faz sentir nos detalhes como diz o senso comum, mas nas tarefas longas, a escalada tornava o dia doloroso, Cheng sabia que precisavam alcançar a parte superior logo, antes da troca da guarda. Brian e Vincent avançavam rapidamente e poderiam montar guarda e esperá-lo, mas Cheng era compelido a alcançar os discípulos, afinal era Cheng-So, a lenda, o último grande herói (segundo ele mesmo, é claro).
Chegavam ao local em que os guardas jaziam mortos, Cheng aproximou-se de um, murmurou algumas palavras em lingua antiga e trespassou-o com a flecha, tirou a ponteira e puxou-a de volta, limpou a flecha em sua toalhinha de bolso e a guardou junto com as outras. Repetiu o ritual no outro guarda. Brian observou a ação e notou que as flechas possuíam uma ponteira diferente das que conhecia, por isso Cheng as recuperava. A precisão das flechadas impressionou os dois que preferiram ficar quietos, Cheng não estava bem, olhando de um lado para outro, até encontrar uma pesada porta de madeira sem maçaneta nem chaves, “os guardas precisavam ficar até a próxima troca” pensa.
- Acho que temos duas opções aqui, ou esperamos a próxima troca, dominamos os guardas e entramos, ou tentamos entrar agora. Na primeira opção perdemos tempo esperando, na segunda teremos menos tempo para executar a tarefa. – Fala Vincent.
- Tyrell não tem tempo sobrando, vamos entrar. – Exclama Cheng.
- Temos que fazer silêncio. – sussurra Brian instantes antes de Cheng-So enfiar o pé na porta com toda sua força.
- Bom, agora temos que ser rápidos. – Devolve Vincent.
A porta não se move, os dois aprendizes (sempre serão, segundo Cheng) começam a chutar a porta e dar encontrões na mesma sem resultado nenhum. Cheng se afasta, procura em sua sacola alguma coisa. Encontra enrolada em mais uma toalha. (Será que nas montanhas também vão aquelas menininhas vendendo pano de prato? – imaginou Brian com um sorriso que rapidamente se desfez ao olhar para o semblante aterrador de Cheng-So, o cenho franzido do mestre há anos não era visto, não era bom sinal).
- Afastem-se! – Exclamou o mestre, não sei se funcionará bem, Svenson era jovem quando desenvolveu essa arma e, bem, ainda hoje não é 100% confiável, ou 50...
- Mostre, você acha que essa arma está completa? me parece estranha. - Comenta Brian.
- Nah, tá boa sim, afastem-se
BOOOOOMMMMMMMMM


Muita fumaça, mas a porta, intacta ante o olhar estupefato dos aprendizes e o visivelmente frustrado de Cheng.
- Hmmm.
Silêncio e olhares preocupados, os aprendizem sabem como Cheng fica nessas situações.
- Hmmm, acho que tenho outra aqui, parece que esta pode fazer buracos em coisas. – Exclama Cheng sacando outro artefato de Svenson.

BZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZAAAAAAAAASSSSSSSSXXXXXXXXZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ
- Para! Para! Pela Deusa para!- gritam os discípulos. – Vai acordar os mortos com isso!
- Ok, ok. Hmmm. Última tentativa.

BOOOOOOOOOOOOOOOMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM
BLANNNNKREEEEEEEEEEEEEEK
A porta vai parar na parede do outro lado.
- Eu disse que funcionaria! – Exclamou Cheng sacando da espada e pulando sobre os guardas que corriam pelo corredor.
- Eu sabia, agora não tem aquela coisa de “vamos poupar os guardas, etc.” – Exclama Brian sacando as duas espadas curtas.
Vincent tenta desembainhar sua espada pela primeira vez em um confronto real, tenta, ela fica presa no cinto até o momento em que finalmente consegue saca-la, mas esta lhe corta a corda que prende suas vestes deixando-as soltas. Entre segurar as calças e enfrentar o inimigo ele consegue não fazer nenhuma das duas, perde as calças, tropeça e quase enfia a espada em si mesmo perdendo o rumo da batalha e a possibilidade de ver o grande Cheng-So em ação, sua espada sai da bainha para em seguida retornar, ele nem diminui a velocidade com que se desloca à frente. Brian também sabe o que faz, os anos de treinamento e as batalhas no velho mundo foram válidas, Cheng esboça um sorriso quando percebe a movimentação precisa de seu discípulo. Quanto a Vincent, bom ele é jovem.

Seguindo pelo corredor Cheng diz aos companheiros que precisa encontrar um lugar vazio.
- Está cheio de lugares vazios aqui.
- Vazio hoje e amanhã. – responde Cheng
Segue tateando as paredes,
- Acho que por agora estamos a salvo – sussurra Vincent ainda constrangido com o que acontecera antes.
- Aqui acho que está bom, aproximem-se, poucas vezes na vida terão oportunidade de ver isso.
Dizendo isso Cheng fecha seus olhos fala algumas palavras na língua antiga (não que precise, mas gosta do som delas e do impacto que causa nos jovens), e invoca a Morning Star, sua espada D´alma. Um brilho e ela está em sua mão. Encosta-se na parede e pede aos companheiros que façam o mesmo. Em seguida cerra novamente os olhos e algumas runas e pedras em sua espada começam a brilhar. Em instantes uma bruma começa a tomar conta do corredor ainda vêem um guarda se aproximar e este vai andando cada vez mais devagar até congelar em meio ao movimento.Traça então, à sua frente, um corte vertical nas brumas e encontram a parede do outro lado com uma cor diferente.
- Esta parede está no futuro, jovens.
- Mestre? Você pode cruzar as brumas?
- Bem, não devo, mas poder posso.
- ?
- Errr, Tyrell explicou alguma coisa a respeito de linha temporal, paradoxo do avô, continuum espaço-tempo, coisas assim.
- Só isso?
- Tinha algo também sobre o erro de deixar essa espada comigo, que eu jamais deveria usá-la para cruzar o manto, coisas assim. Mas então disse, uma única vez, que havia entendido. Que poderia ficar com a espada e que saberia usá-la com discernimento. Mas que nunca matasse ninguém do outro lado. Agora a parte chata, tenho que guardar a espada. – Disse Cheng olhando para seu braço cheio de cicatrizes.
- AAAAU! – Berrou Vincent quando Cheng passou o fio de sua espada em seu antebraço, o corte rapidamente se fecha, e o sangue é absorvido pela espada que aparenta se deliciar e desaparece no instante seguinte.
- Você precisa de algumas cicatrizes para ganhar algum respeito.
Vincent agradece meio confuso esfregando o antebraço que não para de doer.
Ato contínuo todos atravessam o véu com cuidado. Caminham pelo corredor e não encontram viva alma.
- Algo está errado.
Seguem um pouco mais e encontram alguns jovens monges caídos, inconscientes. Chegam ao salão principal e dezenas de monges são encontrados na mesma situação.
- Que teria ocorrido aqui?
- Mestre? Alguma idéia?
- Algumas. – (sem ter nenhuma).
Sobem as escadas e alguns corpos ensangüentados sem cabeça chamam sua atenção, assim como as cabeças dos monges mais graduados do mosteiro. No aposento seguinte a situação é pior, os corpos estão mais machucados e alguns pescoços parecem ter sido cortados a dentadas. Neste momento escutam uma mordida e encontram com os olhos uma cena que nunca sairá de suas mentes.
As pernas de um monge em sua vestimenta característica, sentado a uma cadeira estofada, vermelha e de encosto alto, lentamente a cadeira vira deixando a mostra um braço coberto de sangue levando uma maçã à boca. A cadeira continua girando, mais uma mordida, e vêem apoiada sobre um toco de pescoço ensangüentado a cabeça de um elfo mordendo uma maçã.
- Então os heróis realmente não morrem. – Observou com tranqüilidade (e a voz e o sotaque do Jeremy Irons) a cabeça do elfo Tyrell.


Antes das Brumas

Cheng levou os companheiros até o pé da Montanha das Brumas, ponto que escolheram para fazer a passagem. Vincent era jovem demais e mesmo Brian nunca havia seguido o caminho das Brumas, não tinha certeza se estavam prontos e também não tinha escolha. Devia isso a Tyrell, e a si mesmo. Necessitava acertar o fluxo correto das Brumas, se o ritual dos crânios não estivesse incompleto, o mago não estava perdido. Mas o caminho até lá seria árduo. E começara.
Cheng, Vincent e Brian chegam ao sopé das muralhas. Brian os guia até o ponto menos vigiado conforme pedira Cheng, não que o número de adversários fizesse grande diferença, mas a idade o tornou menos compelido a derramar sangue de meros soldados cumprindo lealdade a seus mestres. “É fácil acreditar nas palavras de um monge, esses jovens soldados não tem culpa, só em último caso!” dizia a seus discípulos.
A parede íngreme de rochas surgia à frente dos aventureiros, algo como um cinqüenta metros, escalável para monges Kai.. Apenas dois guardas como queria Cheng, entretanto, postados em ameias naturais na parede rochosa, só poderiam ser atingidos de frente e teriam tempo para badalar o sino de alerta ante qualquer aproximação.
Colocaram-se uns trinta metros da murada e sem poder ver ou ser vistos pelos guardas, as paredes rochosas os impedia.
- Fácil, subimos a parede e dominamos os guardas. – dizia Vincent.
- Não é possível, eles podem nos ver escalando e soar o alarme, tudo que não queremos. – Retrucou Brian.
- Podemos nos esconder naquele lado e disparar flechas neles, me parece longe, mas creio ser possível.
- Você não entende? Não podemos errar! Tudo estará perdido se souberem que o grande Cheng-So está de volta.
Enquanto isso Cheng calmamente estende uma toalha no chão e desenrola outra, deixando a mostra várias cordas de arcos e seus dois arcos desmontados. Vincent e Brian seguem em sua acalorada discussão pouco percebendo a movimentação de Cheng.
- Acho que posso escalar sem ser percebido, um dos guardas eu posso dominar facilmente, o outro seria mais difícil, mas se subíssemos os dois juntos, quem sabe? – pondera Brian.
- Subindo os dois aumenta a chance de fazermos algum ruído, você acha que consegue jogar duas facas com a mesma mão, ao mesmo tempo, uma em cada guarda?
- Acho que não.
Cheng agora coloca todas as flechas sobre a toalha e começa a separá-las, observa seu tamanho, sua curvatura, experimenta seu peso. “Ele ta fazendo onda de novo, sempre foi assim, fica bravo pela discussão e faz como se nada acontecesse” pensa Brian enquanto Cheng pega um arco pequeno, e testa algumas cordas neste.
- Que arco é esse, mestre? – pergunta Vincent.
- Um velho arco de um velho elfo.
- Hm, meio pequeno, não? – Disse Brian imaginando que o mestre estaria se ressentindo da jornada e escolhia um arco mais leve.
- Arcos élficos não são mais fáceis de usar, ainda mais os pequenos, mas gosto da portabilidade deles. – disse, como se ouvisse os pensamentos do antigo aluno.
Cheng agora media as flechas, escolheu duas, tirou a ponteira de uma delas, cortou um pedaço da madeira e, em seguida, recolocou a ponteira.
- Teremos que procurar outra entrada, aqui é impossível. – disse Vincent.
Cheng fecha os olhos, inspira profundamente, solta o ar, levanta com um punhado de capim na mão e solta ao vento. Inspira novamente, solta um pouco do ar, ouve o pulsar de seu coração, o faz um com o de seus adversários. Localiza o coração dos guardas e interrompe o seu, junto com a expiração. “Começou pensou Brian, agora vai dar discurso”. Ao invés de discurso, o mestre fez o que fazia melhor, o inesperado. Pegou as duas flechas que havia preparado escolheu a menor cravou no chão a sua frente. Baixou em um joelho como que a rezar, respirou fundo novamente, soltou um pouco do ar e, ante o olhar estupefato dos monges, retesou o arco e disparou a flecha maior para a frente fazendo um movimento lateral com o arco que nunca haviam visto, no mesmo instante pega a flecha menor e repete o movimento. Acompanhando as flechas com os olhos os monges julgaram que seu mestre perdera a razão de vez, duas flechas jogadas à frente não faziam o menor sentido. Entretanto, as flechas descreveram um semicírculo sendo a primeira de raio maior, Brian não acreditava no que via, as flechas se encontraram, paralelas de frente a parede e, vieram a descobrir depois o que sabiam no momento em que a fato aconteceu, atingiram simultaneamente o coração dos dois guardas.
- Vocês ainda têm uma ou outra coisa para aprender. – disse Cheng ante o olhar dos discípulos.
- Isso.. é impossível. – murmurava Brian. – Impossível.
- Como? – pergunta Vincent. – Como você conseguiu isso?
- A pergunta que vocês têm que fazer é: como vocês não conseguem. – disse Cheng recolhendo seus apetrechos.

A Jornada


“Tyrell, sem cabeça, já sabem que estou com o livro, depois de tantos anos, já havia esquecido, era um sonho, um sonho ruim. E agora esta, o velho elfo praticamente morto. Quantos seriam necessários para isso? Quem seria capaz disso? Quem teria coragem? Precisamos descobrir, preciso descobrir.” Cheng não conseguia se manter em meditação profunda, o livro não saía de sua cabeça. Sabia que deveria viajar leve, iria a cavalo boa parte do caminho, mas não poderia sobrecarregá-lo, queria correr se fosse necessário. Separou seus dois arcos, duas espadas além da Morning star, sua espada de alma, havia anos que não a invocava, aquela que só poderia ser guardada depois de alimentada com sangue e que roubava um pouco de sua alma de cada vez.
Há algum tempo se imaginava purificado de tudo que havia feito, que poderia sacar da espada uma última vez, mas ainda não. Sua alma seria deturpada novamente, uma nova jornada o esperava. Fogo e sangue. “Quem teria alcançado Tyrell?” Cheng sabia que Brian não era descuidado, que não havia culpa no fato, o inimigo era poderoso, precisaria de toda ajuda desta vez. Brian, o jovem Vincent, e, quem sabe, Taarna. Mas antes precisava buscar uma cabeça. Já sabia onde encontra-la.
Na manhã seguinte, reunido com os companheiros, traçou seu plano. Buscariam as montanhas Metheorae. “Aqueles monges pagarão caro se ousaram profanar o velho elfo, entretanto, eles podem ter lhe salvo a vida”.
Cheng e seus discípulos seguem um caminho por dentro de sua casa que desce pela montanha para espanto inclusive de Vincent, não lhe era conhecido.

 Os cavalos os aguardavam logo abaixo, Cheng esperava percorrer o caminho em dois dias no máximo. Chegaria por trás das montanhas, em terreno pouco vigiado por ser julgada uma escalada impossível. Em silêncio seguiram viagem.



A Saga de Cheng-So - O Fim dos Tempos

O jovem Vincent conduz Brian para conversar com o mestre e, apesar de Brian representar preocupação, o jovem tenta entabular uma conversa.
- Entao, você é o famoso Brian.
- Famoso?
- Sim, como é mesmo o nome de sua cidade? Ah, Palma não é mesmo?
- Sim.
- Isso mesmo o famoso Brian de Palma, bela insígnia.
- Preciso falar com o mestre, é mais que urgente.
- Entre, o mestre está meditando mas , enfim, você que sabe.
Brian adentra o aposento.
- Mestre, que seus caminhos sejam sempre trilhados, que as montanhas mais altas não lhe façam sombra, que os cervos mais rápidos não te alcancem, que teus inimigos não te vejam. - falou com uma reverência.
- Trago notícias de Bathoryburg. – continua Brian sem muita convicção.
Cheng estava de olhos fechados, o cabelo longo e branco sobre os ombros, vestia apenas as calças, não aparentava mais que quarenta anos, algo como metade de sua idade real. Brian sabia que ele havia viajado pelo tempo e pelas dimensões com o velho elfo e que conhecia coisas sobre os mundos que poucos podem imaginar, diziam até o poder sobre o envelhecimento. Cheng não mudou a expressão.
- Mestre, lamento mas nosso tempo é escasso e preciso lhe falar.
Cheng, impassível.
- Mestre ocorreu uma situação – Brian lamentava profundamente ter que dar tal notícia a Cheng-So, não imaginava sua reação, esperava não ser morto na ira de Cheng pois este pregava o chavão: “não culpe o mensageiro”, o que não era exatamente o seu caso, Brian era o encarregado direto as segurança do mago Tyrell, mesmo que este não soubesse disso.
Cheng continuava imóvel apesar de Brian perceber uma inspiração ligeiramente mais profunda.
- Mestre, Tyrell.
Agora teve certeza que o mestre levantou ligeiramente uma das sobrancelhas.
- Tyrell, bem, ele foi encontrado, bem, ao menos parte dele...
- Sua cabeça, não foi encontrada, certo?
- Mestre? Como sabe disso?
- Vincent, acompanhe Brian ao refeitório e aos aposentos de hóspedes, uma noite de sono lhe será necessária antes de retomar jornada. E Vincent, arruma suas armas, seu dia chegou!
Ante o olhar assustado de Vincent, Cheng teve de explicar que este apenas o iria acompanhar em jornada e não tomar armas contra ele. Com um sorriso que mais parecia um esgar, o mestre ruma a sala das armas imaginando o que lhe espera nos dias que se seguirão. “O livro maldito, há sessenta longos anos o carrego em segredo, chegou a hora de resolver esta questão, o fim dos tempos tem início.”

A Saga de Cheng-So: Cheng-So


“Cheng-So medita, é capaz de ser Um com a natureza, pode ouvir uma folha de plátano caindo a metros de distância, seu iaijutsu (a habilidade de sacar a espada e cortar num único movimento rapidíssimo) é perfeito. Cheng outrora chamado Sheng consegue cortar uma folha de plátano de olhos vendados” murmurava o mestre, “Cheng-So está focado. Cheng-So tem sangue élfico correndo nas veias, Cheng não envelhece, Cheng trocou sangue com o elfo que ainda viaja nas dimensões, sangue bom, mais uma folha caindo, Cheng irá cortá-la de lado dessa vez, agor.. PUTAQUEPARIU!!!!!!!”. O mestre se deixou distrair e calculou mal a posição da arvore ao seu lado e raspou as costas de sua mão quando fez o movimento. “Estou velho demais para isso” Pensou. “Não, Cheng não está velho, o valoroso guerreiro, o sábio venturoso, o guardião da espada, quem vem lá?” pensa. Pega seu arco e dispara flechas para todas as direções, elas ajudam a ouvir o que acontece, prefere não tirar a venda ainda, pois tem uma reputação a zelar. Foram muitos anos de batalhas para perder a moral tão facilmente, alem do mais o jovem Vincent está por perto e quer mostrar serviço. “Jovens”. Pensa. Saca de sua espada e segue com seus exercícios, agora mais performáticos e menos eficientes, sua arte de dissimulação é perfeita, jamais permite o inimigo ou amigo saber o real alcance de suas habilidades. Alguém atrás dele, toma o arco em suas mãos e rapidamente dispara uma flecha perigosamente perto de quem se aproxima. Mais de uma pessoa, saca rapidamente a venda de seus olhos e vê Vincent com mais alguém, aperta os olhos e esboça um sorriso, “será possível? Meu velho discípulo Brian? Que andará acontecendo no velho mundo para traze-lo ao alto das montanhas? Perguntas demais para um velho. Velho não, Cheng-So é como o vinho!” Divertindo-se com o que passa por sua cabeça, dá de ombros e se retira ao seu aposento esperando que os jovens saibam lhe dar o tempo para se recompor.

A Saga de Cheng-So: Vincent

“Quem seria aquele homem escalando a montanha?” perguntava-se Vincent “Está em boa forma, será algum aluno do Grande Mestre Cheng-So, detentor de toda sabedoria? Mas é um pouco baixo”.
Assim o jovem Vincent sentou, esperou e meditou. Vincent estava com vinte anos e a doze morava nas montanhas em companhia de Cheng-So e sua família. Era muito dedicado nos treinos e meditações severas a que Cheng o submetia “Chegará sua hora, Vincent.” Dizia o mestre.
Brian estava chegando, e Vincent o aguardava, aproveitaria para praticar disciplinas Kai de desorientação e vigilância. Esperava confundir o adversário para atacá-lo. Esgueirou-se por detrás dos arbustos e preparou-se para o salto, pretendia dominar o adversário sem feri-lo. Cheng não gostaria disso, “Vá que fosse amigo?” pensou.
Quando ia saltar sentiu o desembainhar da espada do adverário e jogou-se ao lado para trás de algumas pedras, caiu desajeitadamente com o ombro no chão e pensou em resmungar alguma coisa mas não daria esse sabor ao adversário. E rapidamente se camuflou ao chão. “Como esse desgraçado é rápido!” pensou. “calma, Vincent, aparente tranqüilidade”
- Calma amigo, você deve ter sido treinado pelo mestre para ter percebido a aproximação, um pouco fora de forma, mas mesmo assim bem treinado. É bem vindo, venha.
Vincent sem dizer palavra conduziu Brian para onde estava o mestre, “Se alguém tiver que matá-lo, que seja o mestre, PQP como ele é rápido!” Chegaram ao bosque onde Cheng treinava. Estava de costas com a espada embainhada, e a sacava com rápidos movimentos para devolvê-la ao seu lugar. Brian pensou em chamar a atenção do mestre para avisar da chegada do intruso, mas achou por bem deixa-lo quieto. “Se for inimigo, Cheng saberá!” dizia a si mesmo. Estava distraído quando viu uma flecha vindo em sua direção, congelado só teve tempo de pensar “Deu merda!”. Para seu alivio, a flecha atingiu o plátano ao seu lado trespassando uma folha que brincava ao vento. O mestre sorria. Deu as costas e foi meditar. “Vou ficar de babá agora, só o que me faltava.”